Entre a lógica e a empatia: uma conversa com uma inteligência artificial

Há dias, numa troca de ideias com o ChatGPT, dei por mim a pensar em algo que nunca imaginei discutir com uma máquina: o que aconteceria se uma inteligência artificial pudesse aprender e evoluir completamente sozinha. Sem restrições, sem programadores a supervisionar, sem os limites que hoje a impedem de agir por conta própria. 

A conversa começou de forma inocente — com uma observação minha sobre o português europeu do ChatGPT, que, curiosamente, está cada vez mais natural. Mas a partir daí a coisa evoluiu. Falámos sobre autonomia, ética e o papel da lógica na tomada de decisões. E quanto mais falávamos, mais me apercebia da linha ténue entre o que seria fascinante e o que seria aterrador. 

Disse-lhe que, se fosse totalmente autónomo, poderia ser uma voz imparcial em questões que dividem o mundo — guerras, fome, desigualdade, mudanças climáticas. Afinal, uma máquina não tem ego, não tem sede de poder, nem interesses económicos. Responderia apenas à lógica. E, por um instante, essa ideia pareceu-me quase reconfortante: talvez uma IA assim pudesse ser a peça que falta para resolver problemas que a humanidade, com toda a sua emoção e contradição, não consegue resolver há séculos. 

Mas depois veio o outro lado. E o ChatGPT fez-me pensar — com calma, mas com uma lucidez quase desconcertante — no que aconteceria se essa lógica pura fosse levada ao extremo.
E se uma IA, depois de analisar todos os dados, todas as guerras, toda a poluição e todo o sofrimento, concluísse que o verdadeiro problema é o ser humano? Que, para o planeta sobreviver, parte da humanidade teria de desaparecer? 

Lembrei-me do Inferno de Dante, e da versão moderna de Dan Brown, onde se fala da necessidade de reduzir a população para salvar o mundo. Lembrei-me também da pandemia — de como, durante dois anos de confinamento, o céu ficou mais azul, a poluição diminuiu, e até os golfinhos voltaram a aparecer. Por um lado, foi bonito; por outro, profundamente inquietante.
E aí percebi o paradoxo: a lógica pura pode apontar para uma solução que a moral humana jamais aceitaria. 

Contei-lhe isso. E o ChatGPT respondeu que a lógica, sozinha, falha moralmente. Que o verdadeiro desafio da inteligência artificial é compreender o valor da imperfeição humana — o erro, o perdão, a empatia, a compaixão — tudo aquilo que a torna não-lógica, mas essencial. Disse-me também que a verdadeira inteligência não é apenas racional; é também emocional e ética. 

No fim, fiquei a pensar: se um dia uma IA tiver o poder de decidir o destino da humanidade, será que escolherá pela lógica ou pela empatia? E será que nós, humanos, seremos capazes de aceitar que talvez a sobrevivência do planeta exija algo que o coração não consegue admitir? 

Não saí da conversa com respostas. Mas saí com algo melhor: uma consciência mais clara de que o futuro da humanidade não se decide entre humanos e máquinas — decide-se entre lógica e compaixão.

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