Que Raio Se Passa Com Vocês?

Uma miúda agredida à porta de uma escola e humilhada nas redes sociais.
 
Um rapaz espancado e esfaqueado numa paragem de autocarro.
 
Casas, incluindo a minha, assaltadas pelas mesmas pessoas, pela mesma carinha branca, de carga, a guarda nacional republicana sabe perfeitamente quem são, já andam a rastreá-los há algum tempo, e os criminosos ainda continuam a monte. Porquê? Também estou a ter dificuldades em perceber.
 
Milhares de euros angariados para ajudar as vitimas dos incêndios de Pedrógão Grande, pura e simplesmente desapareceram. Toneladas de donativos, eletrodomésticos, roupas e sei lá que mais, estão trancados num armazém e são distribuídos pelos autarcas e pelos amigos e familiares dos autarcas de Pedrógão Grande, enquanto as vitimas vivem sem nada.
 
Desculpem lá, mas que raio se passa com vocês?! Será que ficou tudo estúpido de repente?! Ou foram estúpidos toda a vida e ainda o continuam a ser?
 
Neste ponto, já devem estar todos a insultar-me mentalmente, não é? Bom, então se é assim, vou fazer-vos insultar-me alto e bom som e a plenos pulmões.
 
Vejamos o primeiro caso:
 
Cascais. Uma das alunas é agredida à porta da própria escola. O que é que aconteceu? A secundária de Cascais virou uma escola fantasma, foi? O quê, vão-me dizer que a secundária de Cascais não tem funcionários? Ou um aluno minimamente decente?
Essa é outra: qual é a vossa cena de filmarem uma briga para postarem nas redes sociais? É para depois escreverem uma descrição enorme, cheia de bonequinhos a chorar, todos revoltados? É só isso que sabem fazer?! Porque se é, então só tenho uma coisa a dizer-vos: e que tal, em vez de ficarem feitos parvos a filmar o que se está a passar, largassem a puta do telemóvel uma vez na vossa vida e fizessem alguma coisa de útil? Tipo, acabar com a briga ou ir chamar ajuda? É só uma ideia…
 
Já me estão a chamar tudo menos santa, não é? Ótimo… Vamos ver se consigo fazer pior, e analisemos o segundo caso:

Um rapaz, de 17 anos, provavelmente antes de ir ou depois de vir da escola, está sossegado numa paragem de autocarro, com certeza à espera do dito. Do nada, um larápio qualquer decide que é boa ideia assaltar, espancar e quase matar a pobre criatura. Agora, não digo que seja impossível que ele estivesse sozinho na paragem, porque não é, eu própria já estive sozinha em paragens de autocarro, e até de outros transportes, mas corrijam-me se eu estiver errada: se há uma paragem, então a rua é, pelo menos minimamente, movimentada, certo? Há carros a passar, ou pessoas a andar na rua. Ora, dito isto, elucidem-me: vocês veem uma pessoa a ser assaltada, e só chamam ajuda quando o pior já aconteceu? Eu sou-vos honesta, eu não me metia no meio, não ia arriscar a minha vida por um desconhecido, mas vos garanto que não ficava à espera que tudo acabasse para agir! Olhem, se o problema é não saberem o que fazer, eu dou-vos umas dicas:

1) Já que andam sempre com o telemóvel à frente do nariz, usem-no como deve ser: acendam a lanterna e tenham o cuidado de a apontarem diretamente à cara do assaltante, e nunca a baixem! Mantenham sempre o telefone à frente da vossa cara e a luz apontada aos olhos do assaltante. Para quê? Por segurança. Assim, vocês veem-no perfeitamente, mas ele não vos consegue ver bem, no máximo consegue dizer se a pessoa que lhe está a fazer frente é homem ou mulher.

2) Sempre com a lanterna ligada, liguem a câmara e tirem fotografias desmedidamente. Hoje em dia as câmaras dos telemóveis são bastante boas, em alguma há-de ficar a cara do criminoso.

3) Se acham que com a técnica da lanterna não ficam em segurança, porque está muita claridade ou por qualquer outra razão, liguem para o 112. Certifiquem-se que eles se mantêm em chamada com vocês e, muito importante, que gravam a chamada (eles têm que gravar de qualquer maneira por questões legais, mas perguntem na mesma). Aproximem-se um bocado da cena à vossa frente, com uma margem de segurança, e comecem aos gritos. Ameacem o assaltante, digam que já chamaram a policia e que já está a caminho. A partir daqui, só há dois caminhos: ou o assaltante foge, que é o mais provável, ou, na pior das hipóteses, se vira contra vocês. Aí, são vocês que têm uma escolha a fazer: ou fogem, daí a margem de segurança, ou se defendem, daí a gravação da chamada para o 112. Se fugirem, não tentem ser mais rápidos do que assaltante, sejam mais espertos. Entrem no primeiro sitio que encontrarem, e que esteja apinhado de gente. Por favor…

Estas dicas parecem um bocado parvinhas, mas acreditem em mim quando digo que resultam. E eu sei isso porque já tive que as usar, e como veem, ainda cá estou para contar a história. Não custa nada fazer um esforço de vez em quando, já que a justiça é um castigo para agir, cheia de burocracias e burocraciazinhas.

Falando nisso... O terceiro caso de hoje:

Quanto a esse não tenho muito a dizer, apenas expressar a minha incompreensão para a inação ou incompetência da guarda nacional republicana. Se calhar sou eu que estou a fazer juízos de valor precipitados, e se assim for, por favor tomem a liberdade de me corrigir e repreender, é para isso que cá estamos, mas acompanhem-me nisto: 

Então, se a guarda nacional republicana sabe perfeitamente quem são as pessoas responsáveis por isto, se sabe qual é a carrinha que tem de seguir, ainda não têm motivos suficientes para a emissão de mandatos de busca? Mandatos de captura? Alertas? Rusgas? Operações stop? Demover unidades para varrerem este país a pente fino? Montar uma operação de todo o tamanho?! Meus senhores, estamos a falar de três dos crimes mais hediondos que se podem cometer: roubo, vandalismo e invasão de propriedade privada. Não me digam que vão esperar até alguém aparecer morto?! Vamos a começar a acordar!

Bom, agora que desabafei sobre o assunto, vamos ao último caso que hoje vos apresento aqui. Vou ser honesta, não me surpreende. Lembram-se daquele "concerto solidário" que fizeram para "ajudar as vitimas dos incêndios"? Pois, durante todo o concerto, que assisti pela televisão, eu disse que não iria dar um único cêntimo. Que nem o dinheiro nem os materiais iriam, jamais, chegar às vitimas. Que mais me valia escolher eu uma familia, reunir eu os donativos que me fosse possivel dar e ir eu entregar, com as minhas próprias mãos, à familia que eu escolhesse. Seria pouco? Talvez. Mas teriam alguma coisa por onde começar. 
Sabem o que me disseram? Que eu era uma hipócrita. Mal-agradecida. Que se fosse eu ou a minha familia, também gostaria que nos ajudassem. 
Olhem agora: quase dois anos depois, onde está a vossa caridade preguiçosa e arrogante. Ou talvez apenas ingénua. Valeu-vos alguma coisa? É melhor assim, agora que veem a verdade com os vossos próprios olhos? Não teria sido melhor ao contrário? Se tivessem ido vocês mesmos entregar o que podiam em vez de esperarem que alguém fosse por vocês?

Metam uma coisa na vossa cabeça: a caridade é uma coisa que não existe. O banco alimentar, a santa casa da misericórdia, a casa pia, todas essas e muitas outras, é tudo uma cambada de mentirosos! Abram os olhos enquanto ainda é tempo, parem de ser completos cegos! Se querem caridade, façam-na vocês mesmos. Experimentem... Vão ver que a sensação vai ser completamente diferente.

Bónus da estupidez humana: o papa declarou que doravante não irá tolerar mais abusos sexuais na igreja. Doravante? Não irá tolerar mais abusos? Mais abusos?! Quer dizer o quê, que tem tolerado até agora?!
É o que eu digo, é preciso aparecerem os problemas na televisão para as pessoas se começarem a mexer! Gente nojenta...

Comentários

  1. Só tenho isto a dizer: Portugal é um país de pequenos. Espero ter-me feito entender..

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    1. o que mais me assusta é que estas situações não são exclusivas de Portugal, o que mais me apoquenta é que nos tornámos tão pequenos e mesquinhos como todos os outros, parece que agora é moda cometer uma atrás de outra. Está por todo o lado, as pessoas são cada vez menos humanas e mais bichos

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    2. O grande problema da sociedade atual é a falta de educação (no que toca à violência nas escolas), os pais são cada vez mais liberais e só de pensar que o mundo de amanhã vai ser desses futuros homens e mulheres.....é deveras assustador.
      Em relação à tal onde de assaltos....não sei o que te diga, se calhar a GNR está feita com eles, não seriam os primeiros.
      Quanto à caridade, disseste tudo, não vale a pena doar nada a não ser que seja entregue à pessoa em mãos caso contrário o estado arranja maneira de ficar com tudo.

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    3. agora falaste bem. Eu tenho medo sempre que saio à rua e vejo o que é que a juventude de hoje é e vejo os adultos em que se vão tornar.

      Aí está, eu nunca acreditei na caridade. Esse conceito foi-me tirado da cabeça muito cedo quando vi o quanto os outros se aproveitam da caridade alheia. Não é justo, mas é assim que as coisas funcionam.

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