Corridas de Touros

Ontem, foi dia de tourada na cidade onde o meu pai vive. Antes que digam o que quer que seja, não, não sou aficionada, aliás, nem gosto muito do espetáculo em si, mas, sendo filha de um ex-forcado, era quase um insulto não o acompanhar, a ele e aos meus irmãos, ao raio do espetáculo macabro que é a tourada.
Antes de continuar, queria prestar a minha homenagem ao Grupo de Forcados Amadores das Caldas da Rainha, e desejar rápidas melhoras ao pobre homem que perdeu a batalha contra o touro e acabou por ir parar ao hospital.
Agora, quanto à tourada, não a de ontem em particular, mas todas um pouco em geral, eu entendo, e conheço, toda a logística por trás da tourada, e sei porque é que tem que acontecer, mas dispensava todo o horror show pelo que todos dentro da arena tem que passar. Para ser sincera, a única coisa que gosto mesmo numa corrida de touros é a pega - besta contra besta, olhos nos olhos, corpo a corpo. Claro que também é preciso ter sorte no touro que se vai pegar, e no cavaleiro que lhe põe as bandeirolas, pois touro massacrado é touro que não se vai mexer, mesmo que seja incitado a isso, e é aqui que entra a tourada de ontem à noite.
Ora bem, isto de ser cavaleiro de tourada tem a sua ciência, não é apenas montar em cima de um cavalo e espetar ferro num touro e pensar que se fez um grande trabalho, quando claramente foi o completo oposto. 
E já que entramos no tópico dos cavaleiros, quero deixar o meu shoutout ao senhor Parreirita Cigano. Não tive oportunidade de falar com ele pessoalmente ontem à noite, estava uma enorme confusão à volta dele e quando dei por isso, o senhor já tinha ido embora, mas quero deixar os meus parabéns aqui. Foi a coisa mais bonita que eu podia ter visto num espetáculo de tal natureza. Soube manter a calma, esperar pela oportunidade certa e conseguiu fazer um espetáculo magnífico.
Passada agora a parte dos elogios, vamos ao resto; acho que nunca disse aqui, mas há uns anos criei como que um ódio de estimação por um cavaleiro, de seu nome António Telles, porque, tal como eu descrevi uns parágrafos acima, achava que tinha feito um grande trabalho, e em boa verdade, fez foi uma valente bosta. O pobre do touro tinha bandeirolas em todo o lado, menos no sitio que é suposto. (Para quem não sabe, o sítio é na/perto da medalinha que eles têm nas costas).
Adiante, o António Telles, para benção dos touros, reformou-se. Ainda monta, mas não corre, mas, no entanto, contudo, todavia, correu, no lugar dele, o filho e o apresendiz. E como diziam os mais velhos e muito bem, quando o professor é mau, o aluno é pior. Na minha opinião, estiveram os dois mal, mesmo vendo que ainda têm um longo caminho a percorrer, mas o que esteve pior, foi o último, o aprendiz, um cavaleiro amador. Enganou-me bem, porque espetou a primeira bandeirola mesmo na medalha, foi perfeitinho, e reconheço que é algo para lá de dificil de fazer, mas acho que os aplausos lhe subiram à cabeça e a partir daí foi sempre a descer. De repente, perdeu toda a classe que um cavaleiro deve ter e ganhou mais a aparência de um puto gabarolas do secundário, que quando é elogiado, deixa de se esforçar porque é o maior. 
E agora dizem: "mas se está a começar, é normal fazer asneira, dá-lhe um desnconto", e eu digo que não dou, por duas razões:
1) eu vejo os cavaleiros como vejo qualquer outro artista: assim que entram na arena, transformam-se em animais de espetáculo, ou seja, eu paguei para ver um espetáculo bem feito, e com alguma elegância, digamos. Não paguei para ver aprendizes gabarolas e com as hormonas aos saltos num processo de tentativa e erro. Pois é, como espectadora, sou uma valente cabra, sou exigente ao ponto de querer que o espetáculo faça valer o dinheiro que paguei. E devo dizer que fico muito desiludida quando não é isso que acontece.
2) eu sou ribatejana. O povo ribatejano é normalmente simpático e hospitaleiro, e não é exigente com muita coisa, mas se há algo que é levado muito a sério, é a corrida de touros. Se um cavaleiro não dá conta do touro que tem à frente, e se começa a errar demasiadas vezes o sitio onde espetar a bandeirola, é razão mais que suficiente para vaiar o cavaleiro até ele ter que ser convidado a sair pelo Mestre. Pelo menos, entre os que gostam mesmo, porque os que estão ali por estar, ou não sabem o que estão a ver ou preferem nem dar opinião.
E depois há o meu tipo: não sou aficionada, não estou bem lá apenas por estar, e não tenho problema absolutamente nenhum em dar a minha opinião, doa a quem doer.

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