Paradoxo da Experiência

Olá! Como é que estão?

O que me traz a escrever-vos é algo com que me deparo desde que entrei no mercado de trabalho, e acho que todos os da minha geração se vão identificar.

Ora bem, eu ainda sou da altura em que, para começar a trabalhar, uma pessoa só precisava de duas mãos funcionais, dois dedos de testa, mostrar-se pronta para trabalhar e igualmente pronta para aprender um ofício. 

Agora não! Pedem carta de condução, transporte próprio, e 2 ou 5 anos de experiência na área! 

Vejam bem: para tirar a carta e ter carro próprio, é preciso dinheiro. Para ganhar dinheiro, é preciso trabalhar. Para trabalhar, tem de se ter experiência. Mas para se ganhar experiência, é necessário trabalhar. Portanto, meteram-nos num ciclo vicioso de onde é impossível sair. Eu conheço pessoas com mestrados e doutoramentos que estão a trabalhar em restaurantes ou armazéns porque ninguém lhes quis dar trabalho porque não tinham experiência. Mas pois claro que não, acabaram de sair da escola!

Atenção, eu não estou com isto a querer dizer que trabalhar num restaurante, ou num armazém ou até a varrer as ruas são trabalhos inferiores, porque não são. Aliás, são trabalhos de louvar, e deviam inclusive receber mais.

Mas o que me revolta nisto tudo é estar pessoal a investir tempo e dinheiro na própria educação, é estarem famílias a gastarem o que têm e o que não têm para porem os filhos na faculdade para conseguirem ter oportunidades que eles não tiveram, para chegarem cá fora e acabarem a virar hamburguers no mcdonald's (outra vez, nada contra, trabalho perfeitamente digno, not the point).

Por exemplo, no meu caso: eu tenho curso de hotelaria e restauração em cruzeiros, e só vou conseguir ter oportunidade de fazer vida disso porque a VIKING Cruises tem um programa inovador, chamado Viking Training Program, onde nos ensinam e avaliam e temos hipótese de ter um contrato. Não é certo, mas sempre dá hipótese de uma pessoa ir à luta da carreira que quer.

Eu expus a minha frustração a um senhor da Viking quando fui a uma feira de emprego e foi aí que ele me falou do programa, porque eu disse-lhe que isto era ridículo, para eu ter experiência alguém tem de arriscar em mim. 

Por acaso tenho esta sorte, tive sucesso na entrevista, e vou embarcar já no mês que vem. Que outra empresa é que faz isto?

Porque acreditem, se as empresas arriscassem uma fatia dos lucros absurdos que têm por ano para formarem X pessoas anualmente, teríamos muito mais profissionais no país. Mas não. É mais fácil dizer que os jovens não querem trabalhar.

Nós queremos, vocês é que não deixam.

Comentários

  1. Olá :)

    Espero que esteja tudo contigo.

    Queria comentar que concordo plenamente contigo, e isto só mostra o ridículo que é o sistema atual em termos de educação -> emprego, mas também da mentalidade que as pessoas têm quando pensam que estudos = emprego.

    O que quero dizer com isto, é que muitas pessoas acham que é importante estudar porque significa melhores empregos e salários. Aqui começa, na minha opinião, a maior das mentiras. Existem por aí muitos empregos onde se ganha bem e não é preciso ter "canudo", mas sim conhecimento. Nos dias de hoje, cada vez mais é valorizado um bom canalizador, mecânico, etc, e são empregos que cada vez se ganha mais e é mais valorizado. Para além disso, cada vez mais as "saídas" de diversos cursos universitários são mal pagos. Por exemplo, lembro-me de o ano passado ver uma vaga de emprego para engenheiro cujo o ordenado era pouco mais de 800 euros. Com todo o respeito, mas se alguém se andou "a matar a estudar", a gastar o dinheiro dos país, e perder tempo de vida, e depois ficar no "emprego de sonho" a ganhar mais 50 euros que o salário mínimo, algo está mesmo muito mal.

    Tive de falar primeiro no que coloquei em cima, para ir ao centro da questão, que é o facto de termos demasiadas vagas para formação universitária. Existem demasiados cursos, demasiadas vagas, que resulta depois num excesso de população formada para a procura que existe. Faz-me confusão ver cursos universitários onde pessoas entram com média de 10. Com todo o respeito por aqueles que não conseguem tirar grandes notas, mas eu olho para estes cursos e penso "Isto é um curso com demasiadas vagas, ou um curso totalmente inutil procurado por aqueles que querem dizer ao mundo que fizeram uma licenciatura?" Porque é aqui que começa o problema da experiência.

    Vamos falar, por exemplo, de um engenheiro civil. Com base nos dados da DGES, são formados em Portugal por ano, cerca de 450 engenheiros civis, ou seja, cerca de 4500 em 10 anos. Será que Portugal, para esse espaço de tempo, precisa de 4500 engenheiros civis? Da mesma forma que por ano são formados cerca de 1200 pessoas em Economia. Será que precisamos assim de tanta gente? Este excesso de pessoas é o que criou este paradoxo da experiência. No fundo, imagina que tinhas tirado o curso de Economia, e havia cerca de 200 vagas de emprego para essa área, o que te distinguia dos restantes 1200? Assumindo que ninguém tinha experiência de trabalho, todos seriam igualmente apelativos para a empresa que vos iria contratar. Infelizmente é assim que as coisas funcionam, e posso partilhar o meu exemplo.

    No meu caso, até agora, tenho conseguido trabalhar na minha área de formação, mas o que me permitiu entrar inicialmente foi ter feito voluntariado á medida que ia fazendo a licenciatura. Quando terminei os estudos, já tinha quase 2 anos de experiência de trabalho. Por outro lado, muitos colegas que fizeram o mesmo curso mas que só estudavam não conseguiram encontrar emprego na área por.... falta de experiência. Infelizmente, é um problema que está para ficar enquanto a mentalidade não só das empresas, mas da formação como um tudo não mudar.


    Mudando ligeiramente de assunto, fico muito contente que tenhas conseguido uma oportunidade. Agora é agarrar e dar 110%. Vais ver que este será apenas o primeiro de muitos passos na tua carreira :) E com base no que tu dizes, será também uma oportunidade para conhecer outros países, por isso, com certeza vai ser uma experiência espetacular.

    Boa sorte ^.^

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    Respostas
    1. Olá!

      Concordo com tudo o que dizes, mas acho que as vagas absurdas e a descida de fasquia para entrar num curso se deve ao facto de o governo português querer estar taco a taco, por assim dizer, com os outros países no que toca ao acesso e candidaturas ao ensino superior, como se isso mudasse alguma coisa ou fizesse alguma coisa de valor por um país moribundo.

      Enfim, é o país que temos...
      Obrigada. Também tenho a certeza que este é o ano em que começo realmente a minha vida.

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